11 de dez. de 2009

A beleza do anonimato [terreno baldio]

Vinícius de Moraes, aos 14 anos de idade

Assisti ao filme sobre Vinícius, em homenagem aos seus 90. Eu já tinha o CD que, durante algum tempo, foi vendido em conjunto com o DVD. Além de uma seleção sensacional de músicas, em uma das faixas do CD, está “O Haver” – declamada pelo próprio Vinícius.

Confesso que ouvir o CD foi bem menos angustiante que ver imagens de Vinícius bêbado e trocando oito vezes de “esposa”. Não porque eu fique chocada por ver auto-degradação ou porque eu pense que Vinícius é um grande puto-boemio-louco-desvairado, mas porque fiquei pensando na terrível frustração na qual o branco mais preto do Brasil esteve mergulhado durante toda a sua vida. Seus surtos de paixão pelas mulheres eram o combustível para sua produção. Vinícius necessitava do perfume feminino, do sorriso metálico das loiras, das saias curtas das morenas, do bom papo daquela mulher de meia idade ou da idiotice natural da moça de 16 anos. E, em cada nova aventura, Vinícius parecia querer ser arrebatado pelo amor e, amando, chegar a um estágio de nirvana espiritual e perfeição estético-literária. E aí, as duas coisas pareciam se misturar. Para escrever, precisava da inspiração focada no seu afeto descontrolado pelas fêmeas. Daí surgiram os escritos que necessitavam da apreciação do público. E, então, para sustentar o reconhecimento, o poeta corria, loucamente, atrás de suas inspirações: as mulheres (ou o amor?). Nesse ciclo, doses industriais de uísque, cigarrinhos, baseados, cafés, viagens e amigos – tudo isso para que Vinícius vivesse de forma arrebatadora atrás do único objetivo de sua vida: amar e ser amado. E, nesse ponto, o Poetinha sucumbiu.

Por mais paradoxal que seja, o fracasso de Vinícius por não ter amado e por não ter sido amado de forma plena foi responsável pela beleza e intensidade de toda sua obra. Pode parecer absurdo, mas os verdadeiros amantes estão no anonimato e não deixaram nada escrito – a não ser cartas guardadas, em local secreto, pela amada. Eles não têm tempo para pensar o amor porque eles vivem o Amor, com todos os inconvenientes da convivência.

Desprezar Vinícius? Nunca. Certamente, seus sonetos serviram de inspiração para que seu pai se declarasse à sua mãe e, assim, após muita lábia do coroa e muito charme da velha, transformaram-se em dois desconhecidos, amantes autênticos, andantes pelas ruas de Ipanema e casados há 25 anos. E, numa esquina qualquer, uma voz masculina e rouca com sotaque de carioca cantarola, bem baixinho: “Vou te contar/Os olhos já não podem ver/Coisas que só o coração pode entender/Fundamental é mesmo o amor/É impossível ser feliz sozinho…”

Por Érica Coutinho

9 de dez. de 2009

Assim nos parece [terreno baldio]


Fim de ano é peixe comendo gato
Ilustração: Estevão Mendes

7 de dez. de 2009

Tudo de graça [programação cultural]



Essa semana O Balde sugere duas exposições e uma apresentação de jazz. E você? Viu algum filme bom? Uma peça interessante? Sugira também a sua programação cultural e tenha uma ótima semana.


Música

Umbria Jazz Festival

Em sua quarta edição, o projeto recebe o pianista Giovanni Guidi, jovem promissor do jazz italiano. A abertura fica por conta do grupo brasiliense Marambaia.

Dia: 10 de dezembro
Horário: 20h
Local: Teatro Brasília – Brasília Alvorada Hotel
Preço: Entrada Franca


Exposições

Nasce um beija-flor

As etapas do nascimento de um filhote de beija-flor estão nas fotografias de Tancredo Maia Filho. Aproveite a caminhada ou corrida no parque para conferir a mostra.

Dias: até dia 17 de dezembro
Horário: 6h às 19h30
Local: Parque Olhos D’água – 413/414 Norte
Preço: Entrada Franca


O sonho e a ruína

O fotógrafo Luiz Carlos Felizardo registrou um dos mais importantes sítio arqueológicos do país, as ruínas de São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul. A curadoria é de Paula Ramos.

Dias: até 17 de janeiro – de terça a domingo
Horário: 9h às 21h
Local: Caixa Cultural – SBS Qd 3 – anexo ao edifício matriz da Caixa
Preço: Entrada Franca
Foto: Tancredo Maia Filho

3 de dez. de 2009

Tudo passa [terreno baldio]


Despedidas aumentam a dor da partida. Relutava em pensar que aquelas seriam suas últimas horas ali, com pessoas queridas, pessoas que amava. Durante parte do dia chorou em silêncio, com lágrimas secas, engasgadas. Não queria deixar transparecer a tristeza. Queria ser forte; afinal, não era a primeira vez que se sentia daquele jeito. Vazio no peito e sentimento de impotência.

Tentou caminhar pelas ruas, fotografar na memória seus lugares preferidos. Respirar ar fresco e conversar com as árvores, de algum modo, amenizou sua inquietação. Por pouco tempo. Porém, suficiente para arejar os pensamentos. Suficiente para entender que as mudanças são inevitáveis e diminuem a dor da partida.

por Alexandre Isomura
Foto: Vinícius Guarilha

30 de nov. de 2009

Respire! [programação cultural]


Caso os dias pareçam curtos, oxigene o cérebro. O Balde sugere uma programação cultural. Boa semana.



Música


Hermeto Pascoal

“Eu trabalho e busco sempre o inexistente”, escreveu o multi-instrumentista alagoano Hermeto Pascoal no encarte do disco Brasil Universo, de 1985. Sempre na companhia de ótimos músicos, Hermeto faz da improvisação um método. Confira seu novo show essa semana no Clube do Choro.

Dias: 2 a 4 de dezembro
Horário: 21h45
Local: Clube do Choro de Brasília
Preço: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)
Informações: 3224-0599


Teatro

Mostra de Dramaturgia de Brasília

Dramaturgos consagrados e promissores exibem seus mais recentes textos por meio de leituras dramáticas. No sábado (5), a dura vida de um idoso no DF é contada em Um velho problema em – meu gato, minha vida, de Wellington Abreu, com direção do Grupo Hierofante. No domingo (6), é a vez de Todos os dias, uma discussão sobre o cotidiano num texto de Marco Pacheco e direção de Gê Martú. Ainda serão exibidos Pombo Correio, Trinta gatos e um cão envenenado e Folhas de Outono. Confira a programação:

5/12 – Um velho problema em – meu gato, minha vida
6/12 – Todos os dias
7/12 – Pombo Correio
8/12 – Trinta gatos e um cão envenenado
9/12 – Folhas de Outono

Horário: 20h
Local: Complexo Cultural da Funarte – Sala Cássia Eller
Preço: entrada franca
Informações: 3322-2025

29 de nov. de 2009

Tijolo por tijolo [classificado de ideias]


Caros leitores,

O Balde mantém as atualizações desse blog de acordo com as seções propostas no menu à direita. Sugerimos o lazer nosso de cada dia, gritamos ativamente, brincamos em um terreno baldio perto de casa. O conteúdo é manufaturado pela equipe deste jornal. E quem faz parte dessa equipe? Todos.

Gostaríamos de esclarecer que O Balde trabalha com a livre-colaboração para transformar esse blog em um espaço de debate público, aberto à participação de qualquer pessoa, com o que lhe convir. É tijolo por tijolo. Nós damos o cimento. E juntos, construímos nossa realidade.

Venha participar dessa iniciativa. Traga seus textos, fotografias, ilustrações, ideias, areia, brita, vontade. Quer saber mais de cinema? Um livro clássico? Não há policiamento na sua rua? O preço da gasolina está abusivo? Seja o que for, O Balde propõe que nós, enquanto indivíduos sociais, podemos construir as notícias. Você está convidado a experimentar a solidariedade cultural.
Faça parte da nossa equipe. Entre em contato conosco pelo nobalde@gmail.com
Boa obra.
Equipe O Balde.
Foto: Vinícius Guarilha

26 de nov. de 2009

Programação Cultural

Viu algum filme bom? Riu com alguma peça? Visitou uma exposição? Conte-nos sobre sua experiência. Dê uma sugestão de programação. O Balde agradece.



Música

Filarmônica de Minas Gerais

Pela primeira vez em Brasília a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais terá a regência do maestro Fábio Mechetti e a participação do pianista Arnaldo Cohen. No repertório, Villa-Lobos, Liszt e Stravinsky.

Dia: 26 de novembro
Horário: 20h30
Local: Teatro Nacional – Sala Villa-Lobos
Preço: entrada franca


Teatro

Grupo La Mínima

Ao chegarem no local, dois palhaços descobrem que foram contratados para o mesmo local, na mesma hora, pela mesma pessoa. O espetáculo circense Reprise se desenrola a partir daí. A dupla de palhaços Domingos Montagner e Fernando Sampaio apresenta o projeto Circulação La Mínima, que ainda conta com a peça A noite dos palhaços mudos, uma adaptação de quadrinhos do cartunista Laerte.

Reprise – 25 e 26 de novembro, às 16h.
A noite dos palhaços mudos – 24, 25, 26 e 27 de novembro, às 20h.

Local: Teatro da Caixa Cultural – SBS Qd 4 lote 3/4, anexo do edifício matriz da Caixa.
Preço: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).