28 de out. de 2007

Construção - Lembrem-se do Memorial



"O efeito dizimador das enfermidades desconhecidas, somado ao engajamento compulsório da força de trabalho e ao da deculturação, conduziram a maior parte dos grupos indígenas à completa extinção. Em muitos casos, porém, sobrevive um remanescente..."

Darcy Ribeiro em O Povo Brasileiro - A formação e o sentido do Brasil



Estivemos no Memorial dos Povos Indígenas. O espaço, que aparenta estar permanentemente fechado, estava aberto como de costume e atipicamente cheio nessa quinta-feira, 25.

É absurdamente bonito. A galeria se estende em forma de espiral descendente até a enorme arena central, em traços característicos de Oscar Niemeyer. Metade do material em exposição é parte do acervo permanente do Memorial – quase todo doado por Darcy Ribeiro, Berta Ribeiro e Eduardo Galvão – e a outra de duas exposições fotográficas temporárias, integrantes do Foto Arte 2007.

Apesar da importância do material - dividido em cerâmica, cestaria e plumária – alguns problemas infra-estruturais dificultam a conservação e exposição das peças. “Qualquer museólogo fica de cabelo em pé quando escuta isso. Porque não é o ideal. A maioria das peças data de 1950, não têm nenhum tipo de tratamento, nenhum tipo de conservação específica adequada. A gente não tem câmara, não tem climatização na reserva técnica. Então, ficar ali no sol... As películas já não filtram mais a radiação solar. Uma plumária ficar oito anos no sol é um descuido”, enfatizou Tayná Alencar, assessora da Gerência do Memorial.

É um bom exemplo dos entraves enfrentados pela nova Gerência do Memorial, há cinco meses e pela primeira vez conduzida por um indígena, Marcos Terena. O objetivo agora é consolidar uma identidade própria, não submetida ao Governo do Distrito Federal (GDF). “O que a gente precisa agora é ter uma independência. Personalidade jurídica... A gente não tem ainda. Nós somos completamente vinculados à Secretaria de Cultura do GDF. Isso atrapalha muita coisa, porque a gente hoje depende só da Secretaria e eles não têm pessoal para isso. Então, tendo uma independência formal, a gente pode correr atrás de parceria privada, que é a nossa intenção: deixar de funcionar só esperando iniciativa do governo”, sintetizou Tayná.

A Assessora não deixou de lembrar, ainda, o papel fundamental que a sociedade civil terá neste processo. “A gente também está montando uma Associação de Amigos do Memorial. Daí vem a nossa independência: a gente vai poder trabalhar com a sociedade civil, as muitas pessoas que dizem apoiar o Memorial”.

Fica claro que é outra a filosofia de trabalho da nova administração do espaço, o que Tayná faz questão de destacar. “Nos últimos oito anos o Memorial foi administrado por uma inglesa, filha de diplomatas. A postura dela era bem diferente da nossa. O Memorial era restrito a um só povo indígena, o povo do Xingu. E nem era divulgado que estava aberto. Era até um pouco fechado aos indígenas. O que a gente quer é que o Memorial seja uma referência para os indígenas que estão em Brasília”. A figura de Marcos Terena na Gerência talvez contribua para que os indígenas enxerguem o Memorial desta forma. Para o recepcionista do espaço, Franklin de Oliveira Bastos, isso tem mesmo acontecido, “Eles vêm bastante. Às vezes param uns ônibus aqui, eles descem, entram, assam um peixe, fazem o beiju deles e depois vão embora”. Franklin é o único funcionário da Secretaria de Cultura do GDF destacado para trabalhar no Memorial. Tayná enfatiza também a maior presença de indígenas no Memorial que lhes pertence. “Aumentou consideravelmente a visita dos indígenas. Não só a visita como o interesse de chegar aqui, olhar e falar... ‘Ué, mas não tem nenhuma peça do meu povo aqui? Vou mandar uma para cá’. Então, além da utilização do espaço, eles estão começando a se preocupar com isso aqui, cuidar do Memorial como se fosse um ambiente deles também. Porque é.”

É mesmo.

Da equipe d'o balde.
Alexandre Isomura e Pedro de Oliveira
Agradecemos a atenção e a paciência de Tayná Alencar e Franklin de Oliveira Bastos.
Serviço
Memorial dos Povos Indígenas
Eixo Monumental Oeste - Praça do Buriti (em frente ao Memorial JK) - Brasília - DF
Tels: (61) 3226-5206 / 3223-3760



Horário de visitação:
Terça a sexta-feira, das 9h às 17h.
Sábados, domingos e feriados, das 10h às 17h.

4 comentários:

Anônimo disse...

muito massa!! parabéns pela matéria, ficou boa mesmo! os créditos das fotos são de quem? a que ficou meio roxa tá linda... dá mesmo a idéia do espiral que o texto menciona!

Anônimo disse...

Muito legal a matéria. Me lembrou (assim de forma meio constrangedora) a quanto tempo não apareço por lá.

Anônimo disse...

Muito bom, meus amigos Baldios.
o trabalho que vcs fizeram, de dar visibilidade ao que, para muitos, é invisível ou parece estar permanentemente fechado, é fundamental; certamente, um esforço pela preservação da diversidade sociocultural do índio, do Brasil, pela "sobrevida dos remanescentes". Que se torne coletivo esse esforço, que é do museu, que é do jornalista, que tem de ser do governo sim!, que pode ser da iniciativa privada, que é da sociedade civil.
...e vamos ao Memorial do Índio

Anônimo disse...

Oi, pessoal. Gostaria de saber qual foi a empresa responsável pela construção do Memorial do Índio em Brasília-DF.e-mail:gol.roberto@gmail.com

ficarei muito grato com essa informação.