28 de out. de 2007

Terreno baldio - Pedestre

Pedestre

Há quem diga que ela tem um Monet em casa. As janelas estão sempre abertas e, mesmo assim, pouco barulho se escuta. Um Tom Jobim ressoa de seu apartamento vez ou outra. Sempre muito discreta, talvez por isso chame tanta a atenção e instigue pensamentos vários.

No domingo último, após a chuva, chamou o elevador enquanto trancava a porta. Sem maquiagem, apenas com seu perfume natural, sandália de dedo, saia longa e uma blusa lisa. Debaixo do braço um casaco e um Sartre; na mão, a bolsa. Na cabeça a certeza de que era preciso andar e voltar bem tarde.

Os primeiros passos na calçada revelavam um cheiro de terra molhada, que gostava desde pequena. A grama verde e as pessoas mais calmas, com atitudes mais íntegras. O cenário estava diferente, ela parecia diferente, mas os problemas em sua cabeça permaneciam.

Escureceu. Cada esquina que passava, se sentia mais vulnerável. O vento a fez vestir o casaco e questionar se já não estava longe o bastante. Não soube responder; caminhava apenas, sem destino. Buscava algo que fortalecesse o presente.
Alexandre Isomura
Continuação do conto 'Domingo', publicado na versão impressa d'o balde. n° 1.

Um comentário:

Anônimo disse...

ah...! legal ver a continuação de um conto láaaa de trás... o reencontro... nem precisei buscar o Balde nº 1 pra lembrar dele!