As relações entre mídia, poder e sociedade influenciam a cobertura da pauta social?Uma diversidade de regimes já passou por sociedades organizadas de diferentes maneiras. Imperial, mercantil ou capitalista, essas sociedades experimentaram formas de organização visando, entre outras coisas, o poder. A concentração ou a dispersão dele. Explícito ou implícito, sempre houve alguém seduzido por essa falsa liberdade. Falsa, pois só pode ser exercida às custas de outros; a essência de ser livre – no estado de natureza – jamais vigorou. Ser livre tornou-se poder sobre os outros. Poder engendrado à submissões e interesses, alongado por canais cada vez mais impessoais, não-humanos, midiáticos. Tal relação de poder por meio de mídias pauta a sociedade unidirecionalmente.
Poder sobre outros equivale a dizer controlar outros. Enraízam-se graus de dependência cíclicos. Os conceitos de tradição e inovação se equivalem – não há valores –, daí a sociedade deixa de ser evolutiva para tornar-se estagnativa. Não há questionamentos, pois não há novidades. É o definhamento da comunicação. Os processos comunicativos deixam de ser solução e viram um reflexo do poder, artificial e não autêntico. Portanto, uma vez a mídia sendo o poder, inexiste pauta social, pois a sociedade não demanda esclarecimentos.
Logo, as relações entre mídia, poder e sociedade influenciam a cobertura da pauta social. Enquanto a sociedade visar o poder acima de todas as coisas, a mídia será uma escada para esse buraco e somente isso. É delicado solucionar a equação se os conceitos e valores forem distintos. Cabe à sociedade entender e buscar esclarecimentos, iluminações acerca do bom absoluto (bom para todos) e do bom relativo (bom somente para alguns) para que a mídia e o poder não sejam usados em vão. Para que numa mesma realidade e num mesmo plano, sejam discutidos por meio da mídia os valores existentes e proeminentes na sociedade, a fim de que nada possa sobre outra coisa.
Da equipe d'o balde.
Texto: Alexandre Isomura
Ilustração: Estevão Mendes
3 comentários:
é bem isso.
se a mídia pauta a agenda de discussão da sociedade e não o contrário tem alguma coisa muito errada.
com os critérios de noticiabilidade todos deturpados, somos submetidos à exaustão a um só ponto de vista.
Mídia, poder e sociedade, todos nas mãos das mesmas pessoas, como você disse.
Muito bom, colega jornalista.
Fico me perguntando as vezes onde encontrar a mídia que expressa uma faixa maior da sociedade. É tenebroso tentar dar sensação de consciencia aos números e quantidades do que parece ser a pequenidade da voz da sociedade expressa na mídia atual.
Bom saber da existência de indignação com base e sustento. Nada mudará se ficarmos em casa vangloriando heróis e modelos. Saia de casa com um balde e encha-o de idéias e parcerias.
Valeu pelos comentários e continuem a participar dessa caminhada da nossa geração a uma realidade mais real.
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