“... Essa época (década de 60) era muito explosiva, muito criativa. Bossa Nova, Cinema Novo, os Festivais da Record. Existia uma euforia criativa geral, agora é essa pasmaceira. Mesmo nas faculdades existe uma apatia, os estudantes daquela época eram muito revolucionários. A gente tinha sempre um inimigo declarado para enfrentar, agora é tudo mais escondido.”
Reynaldo Jardim
Como é o Jornalismo praticado hoje em comparação à sua época?
A linguagem é toda padronizada e esterilizada. Porque eles estão repetindo as regras e os conceitos de 50 anos atrás, quando se inventou o lide, sub-lide. Continua tudo do mesmo jeito. No meu tempo lutávamos contra a norma culta, essa linguagem afasta os leitores. Hoje os jornais têm as mesmas notícias e as mesmas chamadas, só muda o logotipo dos jornais.
Falta opinião nos cadernos de cultura?
Esses cadernos hoje viraram cobertura de eventos factuais. Não conheço todos os cadernos hoje, mas eles estão muito focados na literatura. Eu criei o Caderno B, do Jornal do Brasil. Foi o primeiro caderno desse gênero na imprensa. Esse suplemento lançou o movimento Concretista no Brasil, nomes como Rouanet, Belchior, Ferreira Gullar, era uma coisa muito viva.
É possível uma iniciativa como o O Sol hoje?
Hoje teria que se criar uma faculdade de jornalismo que tivesse um jornal diário. Os estudantes saem hoje da faculdade sem saber nada de jornal. Trabalhar com jornal é uma experiência fantástica. N'O Sol todos os repórteres eram estudantes, não só de jornalismo, porque não tinha essa exigência. A iniciativa d'O Sol hoje só seria possível se pegassem uma empresa desprevenida. (risos) O sentido comercial da imprensa hoje é muito violento, o jornal é quase todo de classificados.
O senhor sente falta de jornais assim?
Falta tudo na imprensa, eu nem leio mais jornal. O que salva os jornais são os colunistas, eles escrevem o que quiserem. O resto é tudo igual. A solução pra vocês é o blog, é a única solução que tem e é a coisa mais democrática que existe. A imprensa de hoje não tem opinião, são todos peões. (risos)
Qual é a relação do movimento da Tropicália com o contexto social, político e econômico da época?
A Tropicália fez parte de uma época muito efervescente no campo das transformações, mas não teve engajamento político. O movimento fez a recuperação do brega, de Vicente Celestino. Eles eram um grupo de amigos e o movimento se deveu muito ao espírito contestador do Caetano e do Torquato. Eu acho que é mais uma recuperação de valores marginalizados do que de ruptura. Era, talvez, uma ruptura do status quo com a música dominante que era a Bossa Nova.
Entrevista: Beatriz Leal, Kátia Paiva e Pedro de Oliveira
Fotos: Beatriz Leal
3 comentários:
Valeu galera! Ótima entrevista. Por falar em Sol, vocês já viram o documentário? Recomendo fortemente. Abração,
Muito bom!
Que seja um apelo à reinvenção da imprensa - falada, escrita, blog
não temos O Sol, mas temos O Balde!
temos O Balde.!
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