16 de dez. de 2007

Quem chamou essa palhaça? - o balde. entrevista Ana Catarina Franco

“... Faço Artes Cênicas na UnB, estou no oitavo semestre. Eu faço licenciatura, então eu não tenho um grupo e nem estou na área de apresentação mesmo. Mas, vira-e-mexe uma escola me pede alguma coisa e eu tenho algumas esquetes guardadas... Eu dou aula no Maxwell, escola aqui no Guará, mesmo. Ali perto da Feira...”

Para crianças?

Que nada, segundo grau. Tem um monte de aluno meu aí (n’O Sarau). (risos) Muito legal!

O texto das suas esquetes é seu?

Na verdade, eu vou ser bem sincera... Esse texto (da esquete apresentada n’O Sarau) eu copiei. (risos) Eu tirei aquela parte em que a pessoa desaparece, que é bem original... (risos) Na verdade é do palhaço Chuchu, eu assisti uma apresentação dele no CCBB. Foi bem legal.

Desde quando você dá aula lá?

Esse ano, agosto. Mas já dei aula para criança...fiz um filme até com eles. Fiz um filme com os meus alunos de três anos, chamado Nas asas da imaginação. Conta a estória de três crianças que estão brincando de avião... E aí elas estão imaginando que elas estão dentro do avião e estão pilotando e aí uma ganha... E quando vê, essa primeira parte do filme é como se elas estivessem mesmo dentro do avião pilotando... Depois, na verdade, elas estão brincando de avião de papel, é a imaginação delas. É um curta, mas esse eu não pude disponibilizar porque eles são crianças, né? Não posso. Mas eu tenho meus próprios curtas, que alguns amigos me chamam para fazer. Tem o Corra Santiago, que foi gravado este ano em Brasília. É a estória de um cara que tem que entregar um trabalho, ele está atrasado, a mina liga para ele e ele vai correndo Brasília inteira. Ela fala ‘corre!’ e ele sai correndo, literalmente. (risos) Aí ele chega, lembra que o trabalho está em casa e volta correndo para buscar... E quando ele está saindo de casa ela liga e fala: ‘Ah, não, é para amanhã’. (risos) E tem um clipe, que a gente fez uma brincadeira para a Unicesp, chamado Do jeitinho dela, do Tom Zé. Ele está no Youtube. É bem legal, a gente leva bem ao pé da letra... Tem um pouco de cinema trash.(risos)

Sobre a cultura independente, você acha que se pode sobreviver dela?

Em Brasília não. O mercado é pouco, não tem recurso... E para fazer uma coisa bem feita você tem que ter bons materiais, você tem que ter dinheiro, você tem que investir. Então, é complicado. Mas, por outro lado, Brasília tem essa cultura underground, que está fora das galerias, aquela cultura não-canone, não-universitária, que é produzida por escolas mesmo, que é algo mais simples, mais barato, mais prazeroso até de se fazer. Agora, se eu fosse sobreviver disso, dificilmente eu conseguiria. Dificilmente mesmo, porque você vai passar um semestre ensaiando para uma peça ficar mais ou menos boa e você vai ficar um mês em cartaz. Aí você tem que tirar nesse tempo tudo que você gastou em seis meses. É complicado. Talvez no cinema nem tanto, mas no teatro é complicado.

A sua vontade sempre foi dar aula de teatro?

Não! (risos) Eu entrei na UnB com a idéia: eu vou fazer licenciatura porque, na pior das hipóteses, eu vou dar aula. (risos) Eu estou na última opção, mas é a vida. (risos) Mas hoje em dia eu adoro dar aula, tenho meus alunos, me amarro neles, gosto pra caramba.

Você acha que alguns de seus alunos saem das aulas com vontade de atuar profissionalmente?

A gente tem em Brasília hoje um grande problema, que é a obrigatoriedade do ensino de Artes Cênicas. Então, eu tenho que dar aula de Artes Cênicas, todas as escolas tem que ter Artes Cênicas, Visuais e Música... Só que é só teórico. Meu aluno não entra em contato com as práticas artísticas, então dificilmente ele vai gostar. Mas assim, isso é o que a escola deseja, porque eles estão focados para o PAS, para o vestibular. Esse bimestre a gente começou um pouco mais de aula prática – eu pedi para escola e a escola liberou – eles vão se apresentar segunda-feira. Eles estão se amarrando, eu tenho levado por fora, né? Tem um grupo de pesquisa na UnB e aí eu falo: ‘Vamos lá na minha escola?’ e eles vão. A gente faz oficina e tem sido legal. Os alunos têm aprendido até novas palavras mesmo. Eu fui dar uma oficina agora... Foram seis alunos... Eu tenho quatro turmas de 35, 40 alunos e foram só seis no total e a maioria disse que foi porque achava que era palestra, eles não têm nem a noção de que ‘Oficina de Jogos Teatrais’ é algo prático, eles estão muito focados na teoria. Então, para eles, ainda é muito novo, mas eles estão gostando, tem alunos que estão gostando pra caramba.

Fora o incentivo financeiro direto, existe algo que poderia ser feito para estimular a arte e a cultura na cidade?

Com certeza é a educação. Eu pego os meus alunos como exemplo: não vão ao teatro, não se interessam, não buscam... Eu tenho aluno de segundo grau me perguntado o que é esquete, o que é ópera, sabe? Aluno que nunca ouviu falar de Nelson Rodrigues, que só sabe de William Shakespeare, que ainda acha que o teatro começou na época dos jesuítas... Então é muito complicado isso, eu acho que a educação é o grande marco para isso, porque através da educação você tem a chance de entrar em contato com artistas clássicos e contemporâneos e até artistas locais mesmo, da própria escola. Isso dá acesso aos alunos. Você pode apresentar peça de autores famosos e isso não é cobrado, porque você não está profissionalizando, entendeu? Você não está cobrando para ninguém assistir. Isso é legal! A escola é a grande caravana mesmo, entende. É educação mesmo, até para gente se libertar de qualquer outra coisa. Começa tudo na educação. Se as escolas começassem a ter o hábito de, pelo menos uma vez ao ano, incentivar o teatro... Pelo menos uma vez ao ano um grupo de teatro vem à nossa escola... Os alunos talvez tivessem uma mente mais aberta. Agora, por outro lado, eu tenho alunos de nove anos, que é a minha turma de formação de atores... E os meninos sabem tudo! Teve o Cirque du Soleil eles foram, teve O fantasma da ópera em São Paulo eles foram, é um pai de um que está na Rede Globo... então é um outro tipo, entendeu, que é a classe média alta, né? Eles têm mais acesso, com certeza.

Não parece muito difícil... A escola deve ter interesse, os atores também querem mostrar o trabalho...
É. Eu mesma, se a escola falar assim: ‘monta uma peça, a gente cobre um real de cada aluno e você vem apresentar’. Ô, na hora! (risos) Uma turma do governo tem quarenta alunos... um real de cada... dá até para a gente dividir, dar 50% para a escola, como geralmente é. Até a escola lucra com isso, né? Mas aí teria que ser uma peça minha, sem música de ninguém.
A equipe d'o balde. agradece à atriz pela gentileza e paciência.
Entrevista: Pedro de Oliveira
Ilustração: Estevão Mendes

5 comentários:

Anônimo disse...

Tudo passa pela mudança de foco. è como o mito da caverna! As escolas estão viradas para o lado de dentro.

Muito boa entrevista!

Anônimo disse...

muito boa a entrevista! ainda bem que existem pessoas assim!

Catarina Franco disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Adorei a matéria!

Agradeço ao pessoal do o-balde por me convidar para a entrevista! Por manterem fielmente minha narrativa!
Muito obrigada mesmo!!!
amei!

ass: ana catarina franco

Suassuna disse...

Massa, Cacá.
Parabéns.

Aguardo a entrevista no Jô.