10 de fev. de 2008

Terreno baldio - Positivo

Positivo
Era um fato consumado: tinha a doença. Não que tivesse alguma dúvida, mas esperava que a ciência, a eterna ciência dona da verdade, condolente para com todos e conhecida por sua indulgência, pudesse livrá-lo do fardo da culpa, pelo menos. Raios, que fossem sintomas parecidos apenas! Mas não, aquela dúvida capciosa, que lhe carcomia as entranhas e lhe atormentava o sono, estava ali respondida de forma concisa e direta, sem rodeios: positivo. Merda. Ondas de remorso se misturavam ao gosto amargo da culpa em sua boca. Cuspiu. Aquela sensação visceral de que logo logo, mais cedo do que previra, iria ser excluído daquilo que se auto-nomeia “humanidade” tomava conta dele todo, e ele se agarrou mais forte à sua pele, abraçando-se no meio da multidão de olhos cerrados, dentes trincados, as unhas perfurando lenta e ferozmente sua frágil pele. Como podiam ser tão frios? Aquele processo de reconhecimento da condição “doente” podia ser mais lento e gradual, assim o impacto não seria tão grande. Como a verdade era rude. Caminhou trôpego como que ébrio de dor. Tonto de desespero, viu a luz (a luz? esperança? ) e se dirigiu à ela, braços abertos. Não houve tempo para frear. Com o sangue, que era seu e estava se espalhando pelo asfalto, cobrindo o asfalto tal qual sua doença o cobrira, esvaíram-se seus problemas. Sorriu. Morreu na contramão atrapalhando o trânsito.

Texto: Mariana Reis (por e-mail)

2 comentários:

Anônimo disse...

e essa menina agora escreve conto, é?
Gostei muito do conto da Mari!

Animal disse...

rapaz...o que essa menina não faz heheheheh

excelente o conto, minha prima.