26 de out. de 2009

Nunca é tarde [terreno baldio]


Perto das montanhas vivia um homem. Pouco mais de 35 anos de idade, aparentando uns 70... Vivendo uma alegria tão morta que o entristecia.
Todas as tardes sentava-se em uma cadeira do lado de fora de sua casa, e fumava. Ficava ali por horas e horas afim. As mágoas de seu passado eram sempre recordadas. Certas vezes bebia uma garrafa inteira de cachaça para se esquecer das tristezas, fútil infantilidade. Qualquer fuga dos problemas apenas os torna ainda piores. Não adianta fugir da realidade, quem o faz acaba apenas encontrando o dobro do sofrimento anterior.
Deixou este homem de existir por consequência de seus atos. Sua grande ignorância o levou a um ponto de inércia. Preso em situação desconfortável de abalo.
Certa manhã foi ao vilarejo. Precisava de mais alimentos. Após comprar comida para uma semana, viu um senhor de idade caído ao chão. O pobre coitado era um viajante, que passava fome.
O homem levou-o para casa. Deu-lhe banho. Deu-lhe bastante comida, que foi consumida vorazmente. Eram esperados agradecimentos, mas o velho nada disse. Anotou apenas uma frase no papel e foi-se embora.
Uma irritação subiu pelo corpo do homem. Ajudar sem receber ao menos um obrigado era uma ofensa. Voltando ao interior de seu lar, lembrou-se do bilhete deixado pelo senhor. Foi ao seu encontro e leu a seguinte frase:
- É tão bom viver...
Leu e releu aquilo por várias vezes. Lágrimas correram seu rosto vagarosamente, molhando-o por completo. Chorou até não poder mais. Até aquele ponto, havia esquecido a vida. Não se importava com nada. Mas viu que ainda tinha saúde. Viu que tinha forças para trabalhar, poderia ainda levantar sorrisos e amizades. Percebeu que esse tempo todo, não passou de um tolo.
Sentiu que nunca é tarde para poder recomeçar. Deixou a bebida e o cigarro, voltou a viver em sociedade e passou a trabalhar. Casou-se com uma mulher de sua idade, teve duas filhas.
O senhor naquela mensagem deixou-lhe agradecimento maior do que o esperado. Se desse apenas obrigado, seria esquecido. Se dissesse adeus, seria esquecido. Utilizando-se da frase certa na hora certa, ajudou a reconstruir a vida de um homem.
Por João Henrique Gonçalves

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