5 de nov. de 2007

Sente-se - Solilóquio

Solilóquio

Chegou a noite,
Com ela, o silêncio,
O silêncio quase absoluto,
Onde somente o mar
E o vento escuto,
Como a lembrar que o mundo
Ainda existe.
Suave música, divina e triste,
Qual o murmúrio de alguém que sofre
A dor final que antecede à morte
Ou o sossego que precede à ela.

Não me recordo de uma noite assim,
Nem mesmo quando tu foste embora,
Naquela vez eu estava, como agora,
Sozinho na maior das solidões.
Tinha saudades, mas, tinha esperanças
De que a qualquer momento voltarias
Para viver comigo aqueles dias
Em que nós dois, felizes quais crianças,
Brincávamos de amor em nossa cama,
Sem perceber que o mundo lá de fora
Tocava os carrilhões de hora em hora
Como se fora o capataz que chama
Os seus peões para o trabalho duro,
Em nosso quarto, acolhedor e escuro,
Nenhum relógio, na verdade, havia,
Pouco importava se era noite ou dia,
Não há noções de tempo para quem ama.

Chegou a noite,
Com ela, o silêncio
Silêncio sem paz
Porque agora estou só
Com as minhas lembranças.
Lembranças do corpo
Que vi estendido
Nos brancos lençóis
Deste quarto vazio.

Lembranças dos olhos
Inquietos e aflitos
A tremer de desejo
Na hora sublime
Em que a boca, num beijo,
Revela e exprime
A ânsia do sexo
No ato do amor.
Saudades dos braços,
Dos seios macios,
Dois pombos vadios
De asas cortadas,
Pousadas num tronco
Sem folhas ou galhos
Buscando agasalho
Nos lábios do amante.

Lembranças, saudades
São armas que ferem
O corpo e a alma
Do ser solitário,
É cruz e calvário
Daqueles que querem
Na paz e na calma
De um quarto sem luz
Morrer como Cristo
Pregado na cruz.

José Augusto de Campos, o Zeca

2 comentários:

Camila Roxo disse...

Zequinha, grande Zeca, que deixa tanta saudade, mesmo pra nos que tão pouco o vimos ou pouco conhecemos...manda pra mim, Pedrinho, os textos dele pra gente começar logo a compilação.
Beijo grande da prima

Anônimo disse...

Sim, provavelmente por isso e