5 de nov. de 2007

Terreno baldio - Embora

Embora

Conseguia-se ouvir cigarras e carros num primeiro momento. Inspirando duas vezes já se ouvia crianças brincando e elegantemente um Bach, que surgia de um apartamento alto, não distinguiu se era do quarto ou do quinto andar. Há julgar pela luminária, optou pelo quinto.

Sentado naquela praça, como era de costume aos domingos pela tarde, notou que ultimamente nada fizera em relação aos seus últimos conflitos. E por mais que os tentasse enganar, sabia que não tinha total controle da situação. Era um aprendiz de suas próprias teses, uma ilusão em sua realidade.

Acenderam-se as luzes amarelas dos poucos postes presentes ali. As árvores pareciam conversar entre si sobre as notícias do dia. Devaneou um pouco sobre as árvores.

Por uma das calçadas passou uma moça apressada; comportamento incomum para um domingo, pensou. Percebeu que levava dois discos, conseguiu identificar apenas o de Dorival Caymmi. Entretanto, nada o intrigou mais que a expressão da mulher, um misto de dúvida e de conformidade. Acompanhou-a com o olhar até sumir entre os prédios.

Há três horas na praça, as costas começaram a dar sinal de fadiga, a dor física sobrepôs a mental. Estava na hora de comprar o pão do lanche que prometera levar à esposa. Já havia passado da hora, aliás. Foi, embora não quisesse.
Alexandre Isomura

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