25 de fev. de 2008

Construção - SOS

Rebelem-se, seu vermes

Do lado de dentro do Palácio do Itamaraty acontecia, em 20 de fevereiro último, o Fórum dos Legisladores do G8 (Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos) +5 (África do Sul, Brasil, China, Índia e México), que decidia o posicionamento dos governos e governantes acerca do problema climático mundial.

Do lado de fora, estabelecia-se o Protesto Climático Nacional, organizado pela SOS Clima Terra, que, segundo o líder da ocasião, é uma organização ‘guarda-chuva’ que engloba cerca de 3.000 movimentos em 100 países pelo mundo, em uma estrutura horizontal, sem diretores ou gerentes. A intenção dos manifestantes era participar do Fórum e questionar a postura, principalmente, dos norte-americanos, cujas diretivas haviam sido estabelecidas, providencialmente, apenas dois dias antes da reunião.

Além da voluntária Gláucia Fernandes e do ‘líder’ Roberto Ferdinand (ou Pedro Nascimento, ambos nomes fornecidos por ele), participavam da manifestação basicamente jovens universitários, cerca de 10, a maioria deles conhecidos de Roberto (da organização) ou alunos de biologia da Universidade Paulista (Unip).

Antes da invasão do Itamaraty, o alarde necessário: duas faixas do Eixo Monumental paradas pelos manifestantes, munidos de faixas com palavras de ordem (clique para álbum completo com fotos), obviamente contidos pelo policiamento ostensivo da Esplanada dos Ministérios. Após alguma discussão, a tentativa de entrada na reunião, sem sucesso. Em tempo: os manifestantes, já dentro do Palácio do Itamaraty, não chamaram a atenção da imprensa, de modo geral. Além do registro da Agência Brasil (através da repórter Luana Lourenço), nenhum outro.

Pedro Nascimento, vulgo Roberto Ferdinand

O ativista responsável – que em entrevista ao balde. afirmou chamar-se Pedro Nascimento e ao restante da imprensa disse ser batizado Roberto Ferdinand (?) – apesar do temperamento intempestivo e da hiperatividade quase improdutiva, mostrou-se um líder consciente e conhecedor das condições de vida do planeta. Desde o começo do Protesto fez questão de esclarecer: era ele o responsável e somente ele conversaria com a polícia e a imprensa, para preservar os demais manifestantes. Afirmou também ter concluído recentemente doutorado baseado em mudanças climáticas e ter protestado também em outros países.

Antes da ação propriamente dita, fez um discurso/palestra (clique para áudio completo), basicamente técnico, com dados presentes nas costas do panfleto do protesto. No discurso, chamavam a atenção denúncias contra a mídia brasileira e internacional: “Corrupção, esta é a resposta: corrupção editorial. Os jornais estão se vendendo. Rede Globo, Record, SBT, Correio Braziliense, Estadão, Jornal do Brasil... Todo mundo”, bradou (áudio completo abaixo), e contra a empresa Esso (Exxon Mobile Corporation) e a estrutura de governo estadunidense: “O governo dos Estados Unidos tem uma posição absolutamente irresponsável, criminosa. Metade dos Ministros de Estado do Governo Bush são ex-funcionários da Exxon Mobile Corporation, a Esso, que é a grande empresa que está por trás de tudo isso, comprando governos e fazendo lobbies”, finalizou.



Segundo ele, as delações estão fundamentadas no último relatório (2007) do IPCC-ONU (painel intergovernamental de mudanças climáticas da ONU, composto por 190 governos supervisionados por todos os setores da sociedade civil organizada, de acordo com o panfleto).

Baldios

Estivemos ao lado dos manifestantes desde as 12h (horário inicialmente estabelecido para o Protesto, que só aconteceu mesmo por volta de 13h30) até as 15h30, quando estavam dentro do Palácio do Itamaraty, porém impedidos de participar do fórum.

Apesar das intenções explicitamente cênicas e midiáticas, necessárias para incentivar o debate posterior, manifestações como estas devem, sim, ter o seu espaço.

Estamos, como frisaram os representantes do Protesto (mais informações no áudio da palestra), à beira do derretimento e desaparecimento global. Como isso vai acontecer ou a melhor maneira de introduzir o assunto goela adentro dos outros habitantes do planeta ainda está em aberto.

Talvez uma melhor organização conjunta dos movimentos sociais, talvez uma outra globalização.

Definitivamente através de resistência.

Da equipe d'o balde.
Texto: Pedro de Oliveira
Fotos: Gabriel Morais

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