9 de out. de 2009

Um labirinto azul [terreno baldio]

Ela chegou e me pediu uma caneta emprestada. Disse que estava indo embora, e queria levar uma lembrança daqui. Pediu que eu escrevesse meu nome num pedaço de papel. Beijou minha testa. E partiu. Não tivemos tempo para uma fotografia.

Fazia calor apesar de toda aquela chuva. Fiquei ali olhando o céu. Os aviões, distantes. Indo e vindo. O cigarro tinha acabado. As borboletas dançavam para mim. E eu quis ir embora como elas. Com Ela.

Era sábado, meus amigos bebiam cervejas. Eu precisava escovar os dentes. Lavar meu rosto com a água daquela chuva. Lavar a minha alma. Fechei os olhos. Abri os braços e comecei a girar, como se desenhasse um espiral no chão. Tudo escuro. Eu queria voar. Viajar. Mergulhar como um pássaro neste céu azul. Abrir bem os olhos lá em cima. Procurar o meu pote de ouro no final daquele arco-íris tão cheio de cores. Ver o mundo lá do alto. Observar a cidade, tão linda. Os carros, tão parados. As pessoas, tão loucas. As árvores, tão árvores. Mas meus pés não saíam do chão. Eu não podia decolar.

O nome dela era Elizabete. Pele clara. Cabelo escuro. Dois olhos que me olhavam como se me conhecessem desde sempre. Como se me acompanhassem. Dois olhos que me compreendiam. Linda. Ela era diferente. Especial. Havia algo em comum entre nós. Talvez a sensação de não pertencer a esse planeta. Talvez à vontade de voar. Talvez as borboletas também dançassem para ela.

Girei. Girei. Girei. Girei até cair no chão. Tonta. Confusa. Sem saber para qual lado ficava o norte. Procurei as chaves de casa no bolso da calça. Não encontrei. Acho que peguei no sonho ali mesmo. Sonhei que estava numa roda gigante. Enorme. Cheia de pequenas luzes coloridas. Eu comia algodão doce quando várias borboletas me tiraram dali. Voei com elas entre as nuvens. Olhei para os lados quando pousei e percebi que estava dentro de um foguete. Elizabete comandava o foguete. Perguntei pra onde estávamos indo. E ela sorriu.

De repente uma linda borboleta azul pousou na palma da minha mão. Era sábado. Meus amigos bebiam cervejas na minha casa. Fazia calor apesar de toda aquela chuva. Pedi uma caneta emprestada para alguém. Sai pra comprar cigarros. Entrei no elevador. Olhei bem nos olhos da imagem que eu via no espelho. E sorri. Quando percebi que Elizabete, era eu.

por Liana Farias

3 comentários:

pedro disse...

juventude,

o novo site está do caralho, com o perdão do calão baixo!

parabéns!

(este conto é (mais) um dos primores das casa das primorosas da primosia)

um abraço,

Rejane Saraiva disse...

Adorei.

Alifas disse...

Lilica...

Não sei se posso te chamar assim, pelo menos em público (em publicação!). O que menos vejo de ti são teus textos. É um pecado então. Nossa relação amistosa começou naquelas salas luminosas de fantasias, brigando com onça e tudo mais. E daquele tempo enfim mato a curiosidade: agora entendo porque o Grão-Duque te chamava Elisabete.