Herdado o pensamento filosófico dos Antigos – uma busca pela essência e funcionamento do mundo – e levando-se em conta o rico material deixado por Aristóteles e pelos pensadores árabes, Averróis, por exemplo, a Filosofia estava em um caminho de lapidação. Porém, o curso foi diferente. Com a enorme influência da Igreja no mundo social e intelectual, muitas áreas, logicamente, ficaram manipuladas e amputadas. Os conceitos de família, vida e morte, por exemplo, foram quase que impostos. Tudo repousava sobre as vontades da Igreja e essa instituição detinha a maioria dos livros e escritos da época, angulando também o acesso à informação. Por esses fatos, no começo do período medieval, a Filosofia era inteiramente ligada à Teologia. E o estudo de qualquer uma dessas áreas era, além de manipulado, restrito a poucos lugares da Europa.
O estudo da Teologia baseava-se em dois livros fundamentais: a Bíblia e o Livro das Sentenças, esse último escrito por Pedro Lombardo. Tal estudo era muito mais teológico que filosófico. Entretanto, no século XIII, a obra de Aristóteles ficou cada vez mais conhecida, iluminada por comentadores árabes. Abria-se uma porta que oferecia uma outra visão de mundo coerente e modelo de saber. Tratava-se, portanto, saber se esse pensamento podia ser conciliado com os dogmas cristãos. Após inúmeras discussões, os teólogos optaram por predominar o ensino da Bíblia em vez dos conhecimentos aristotélicos. Houve, então, uma ruptura inicial entre Teologia – com um papel cada vez mais de ilustração da ortodoxia e censura de heresia – e a Filosofia – que trilhava por novos caminhos, tornando-se mais livre e flexível.
Após esse episódio, a Filosofia pôde se desenvolver, influenciando vários outros saberes. Primeiramente a própria Filosofia. Começou um desenvolvimento autônomo de uma Filosofia natural puramente racionalista, conciliando elementos de um sistema inteligível do mundo para iluminar com luzes próprias uma fé à procura não somente de salvação, mas de compreensão. Para o pensador medieval, todas as coisas contingentes espelham a perfeição divina, mas não necessariamente se identificam com ela. A Filosofia, a partir daí, dessacralizou, desmistificou e desdivinizou o mundo e seus elementos, com genuína mentalidade racionalista.
Essas mudanças tiveram uma inestimável influência no modo de pensar da humanidade, um modo mais organizado e racional. Nesse período de transição surgiram as universidades. As de Paris e Bolonha estão entre as mais antigas. Essas instituições sistematizaram os conhecimentos disponíveis naquele tempo, era um ponto de encontro da efervescência de pensamentos que no futuro vigorariam no Iluminismo e no Renascimento (o período das Luzes).
Visto todo esse desenvolvimento, entre discussões e impasses, não podemos atribuir à Idade Média apenas um período de passagem entre Antiga e Moderna. “A quem insistir que esse período representa uma longa noite, deve responder-se que foi uma noite iluminada com muitas luzes e estrelas”, diz Reinhold Ullmann. E a universidade foi a luz maior, graças aos saberes que se desenvolveram com a Filosofia e que ela não deixa retroceder.
2 comentários:
Filosofar é preciso. Entao lá vou eu:
Viva a filosofia do conhecer infinito. Líquida, nos preenche os espaços vazios. Sólida, nos impões barrreiras e aos poucos nos dá corda. Gasosa a respiramos sem saber.
Pona, meu amigo, espero por filosofias de bar!
Por que nao:)
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