(clique na imagem para ampliá-la)
Tenta freneticamente maquiar a mancha roxa em volta de seu olho direito. Filho da mãe. Como pôde? A mão busca maquinalmente mais e mais do pó corretivo barato (provavelmente vencido) em cima da cômoda de madeira carcomida. O cigarro de mentol pulula em sua boca. Ela tem tanta raiva que mal consegue segurá-lo entre seus lábios mal-pintados de vermelho. A imagem no espelho chega a ser patética: os cabelos escapando do coque desalinhado, as maçãs do rosto excessivamente pintadas com rouge, o cigarro balançando ritmicamente, seu olhar desesperado, as manchas de gordura em sua roupa, o quarto de 5ª categoria à meia-luz da lâmpada única que falha de segundo a segundo. Liga-desliga. Encara-se. Chega. Não mais. Apóia as mãos, que tremem, na cômoda, enquanto sua expressão se morfa lentamente de raiva para desespero; e grita. Lança-se contra o espelho, estilhaçando-o, e, junto com sua própria imagem, se despedaça.
por Mariana Reis
2 comentários:
Legal ver a segunda publicação da Mari n'O Balde (uma impressa e uma digital).
É engraçado ler um texto de ficção de uma pessoa que você conhece na vida real, né? Parece que você está entrando em um outro íntimo da pessoa... Mas enfim!
Lembra os do Pedro!
E muitas vezes, um íntimo adjacente. Só revelado enquanto expressão cultural ou artística.
Queremos ver suas publicações novamente, Bia. Sempre muito bem-vinda.
Equipe O Balde
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